sábado, 16 de junho de 2012

A mais bela flor






O estacionamento estava vazio quando me sentei para ler embaixo dos longos ramos de um carvalho. Desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois o mundo estava tentando me afundar. E se não fosse razão suficiente pra arruinar o dia, um garoto ofegante se chegou, cansado de brincar. Ele parou na minha frente, cabeça pendente e disse cheio de alegria: veja o que encontrei! Na sua mão uma flor; e que visão lamentável, pétalas caídas, pouca água ou luz.Querendo me ver livre do garoto com sua flor, fingi pálido sorriso e me virei. Mas ao invés de recuar ele se sentou ao meu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa: O cheiro é ótimo, e é bonita também... Por isso a peguei; tome, é sua.

A flor à minha frente estava morta ou morrendo, nada de cores vibrantes como laranja, amarelo, ou vermelho, mas eu sabia que eu tinha que pega-la ou ele jamais sairia de lá. Então me estendi para pega-la e respondi: O que eu precisava... Mas ao invés de colocá-la na minha mão ele a segurou no ar sem qualquer razão. Nesta hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego, que não podia ver o que tinha nas mãos. Ouvi minha voz sumir. Lágrimas despontaram ao sol enquanto lhe agradecia por escolher a melhor flor daquele jardim; “de nada” ele sorriu. Então voltou a brincar sem perceber o impacto que teve em meu dia. Sentei-me e pus-me a pensar como ele conseguiu enxergar um homem auto- piedoso sobre um velho carvalho.

Como ele sabia do meu sofrimento auto-indulgente? Talvez no seu coração ele tenha sido abençoado com a verdadeira visão. Através dos olhos de uma criança cega, finalmente entendi que o problema não era o mundo, e sim eu.

E por todos os momentos em que eu mesmo fui cego, agradeci por ver a beleza da vida e apreciei cada segundo que é só meu e então levei aquela feia flor ao meu nariz e senti a fragrância de uma bela rosa; e sorri enquanto via aquele garoto, com outra flor em suas mãos,prestes a mudar a vida de um insuspeito senhor de idade.

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